Roda Viva na verdade são dois livros.
O primeiro é a história do Chico Buarque, um desabafo frágil e juvenil sobre as engrenagens da indústria cultural, que tentava padronizar seus artistas segundo modelos americanos, e que não fora planejada para se opor à Ditadura Militar brasileira. Uma peça mais interessante pela parte musical do que pela peça propriamente dita.
O segundo é a peça do Zé Celso e do Teatro Oficina. Os atores que sacudiam (metaforica e literalmente) os espectadores e gritavam: "Já matou um comunista hoje?". Outros eram agarrados por atrizes vestidas como garotas-propagada que gritavam "Comprem! Comprem!". As atrizes que, simbolicamente comendo o coração do artista, disputavam um fígado de boi cru e o devoravam, fazendo com que o sangue espirrasse na platéia. Enquanto isso, a pura noiva do falecido, depois de simular sexo com a câmera, era coroada Rainha da Televisão, e assumia a imagem de Nossa Senhora, de coroa, biquini e bobs no cabelo. Uma peça tão polêmica que os atores foram atacados pelo Comando de Caça aos Comunistas, e espancados. A Marília Pera foi forçada a andar nua no centro de São Paulo, e só não apanhou mais porque uma camareira teve a coragem de defendê-la. Outros dois atores foram seqüestrados em Porto Alegre e abandonados em uma periferia da cidade. Aliás, o Teatro Oficina ainda é tão polêmico que recentemente uma das atrizes perdeu a guarda do filho acusada de participar de um teatro pornográfico.
Essa era a provocação contra a ditadura, que ficou ligada ao Chico Buarque, embora ele mesmo sempre diga que a peça era ingênua.
É difícil, sem ler a peça e pesquisar muito sobre ela, separar o que veio do Chico Buarque e o que veio do Zé celso. O que me interessa é o segundo livro. ( )