Giancarlo Maiorino
Autor de The Portrait of Eccentricity: Arcimboldo and the Mannerist Grotesque
Sobre El Autor
Giancarlo Maiorino is Rudy Professor of Comparative Literature, Indiana University.
Obras de Giancarlo Maiorino
Etiquetado
Conocimiento común
Todavía no hay datos sobre este autor en el Conocimiento Común. Puedes ayudar.
Miembros
Reseñas
Estadísticas
- Obras
- 7
- Miembros
- 36
- Popularidad
- #397,831
- Valoración
- 3.5
- Reseñas
- 1
- ISBNs
- 10
O Lazarillo, com o picaresco, traz consigo um novo estoque de metáforas, e talvez até uma nova forma literária acidental (a divisão em tratados/capítulos não foi concebida originalmente pelo autor da epístola), desenvolvendo-se a partir de uma nova diversidade estilística, social e linguística; rompendo, mas não deixando de se apoiar, nos Romances de Cavalaria que o precediam. O Giancarlo ilustra isso muito bem evocando uma imagem mais ou menos assim: o Picaresco chicoteia o Romance de Cavalaria, ainda que montado em cima dele.
Precede o Zola, o Dickens, e outros, atendo-se à história individual, não grandiosa, tendenciando a explorar as cenas humanas. "A narração deve parar só porque nenhuma ação visível acontece? O descanso, o sono, a futilidade, a preguiça, a exaustão física, e muitas outras maneiras de se fazer nada ou muito pouco, fazem parte da existência humana; a bem dizer, são elas que sustentam nossa existência." O Picaresco aproxima a História da Estória; a vida de Lázaro, mesmo antes da sua popularidade, já se entrelaçava com a cultura popular, representando no livro uma Toledo bem conhecida, intimamente, pelo povo leitor do romance.
O Giancarlo Maiorino é cirúrgico no assunto que delimitou, e entra em muito mais detalhes e conceitos que não citarei apenas para não me alongar, mas que valem muito a pena de serem lidos; vale, também, a nota de que ele ainda termina o trabalho com perguntas interessantes e uma projeção que abre ainda mais o escopo das suas interessantes questões.
Mira, logo, uma outra renascença, não da alta cultura, mas da cultura popular, a renascença vista pelo prisma dos leitores, dos pobres, dos pícaros.
A renascença como a conhecemos, é a renascença de quem?!
A escrita, no geral, é muito boa, dando espaço até para boas imagens, frases e metáforas. A bibliografia, é extensa. Deixo algumas passagens e notas, em livre tradução:
— "a carne da casta pode vir a ser o veneno da classe"
— No Enchiridon de Erasmus, para retratar uma nova maneira de viver: "encorajemo-nos a adquirir uma propriedade; se não tivermos nada não seremos capazes de viver (...)" é A tal da ascensão da propriedade privada indissociável ao surgimento do gênero romanesco.
— "No limiar da sobrevivência, todo trabalho mal-pago é melhor que nenhum-trabalho; e a narrativa picaresca rascunhava cenários de completa miséria onde qualquer trabalho que tornava a sobrevivência possível era visto como uma benção."
— Lázaro garante uma renda estável em troca da depreciação moral, ele troca o matrimónio pelo patrimonio. A sombra do picaresco é tanto uma paródia tanto das classes quanto do sistema de castas.
— "Não há nada em nossos corpos que não tenha sido outra coisa ou não tenha uma história para contar. (...) Nossas meias são lenços mas já foram toalhas, e antes disso, camisas, descendentes de lençois, e que no futuro talvez se tornem papel."
— “O foco do picaresco na imanência e na topografia da existência levanta uma questão. Quando a vida é reduzida ao cotidiano, a narração também deve esmorecer? Ou ela ainda deve operar sob um disfarce que os tradicionais conceitos de mimésis descartam como irrelevantes?"
— O picaresco explora bastante bem a relação entre a fome, a linguagem, e os aspectos sociais; o estômago vazio modula tudo, inclusive a mimésis, a presentação, que até virtualmente o alimenta; órgão utilizado para a fala, afinal, é o mesmo por onde nos alimentamos.
- [Vive-se em] Uma sociedade onde a obtenção de alimento exausta a maior parte do potencial humano.
- "Cavalaria Villana ou a baixa nobreza, cujas posses comumente não excediam um cavalo e uma armadura"… (más)