Só [re]conhecendo Vieira pelo nome, por lhe ver aqui e além alguma citação sem nunca lhe conhecer o contexto, resolvi ler este sermão para finalmente sentir o pulso de uma obra deste autor.

Devo confessar que fiquei agradavelmente surpreendido com o que aqui encontrei. Sem outra expectativa além de saber que me encontraria, obviamente, diante de um sermão, cedo fui arrebatado pela facilidade do discurso e pelas vivas retóricas invocadas por Vieira.

No elogio e crítica que faz aos peixes, inspirado em Santo António, este outro António desdobra e identifica o tanto de errado que identifica entre aqueles que o escutam. Com mestria e muito tato, sai Vieira puxando as muitas orelhas dos que têm perspicácia para se descobrir nos humildes peixes que a ele quiseram ficar ouvir.

Vale também este texto pelo retrato de uma época e de uma realidade histórica tão importante como foi a colonização e evangelização do Brasil. No sermão, o instantâneo de um cotidiano complicado, de uma sociedade nova já tão cheia de velhos vícios e do quão difícil foi, e é, lutar por devolver alguma sanidade àqueles que, tendo tanto poder, tão pouca sanidade parecem de facto ter. ( )