Ray Brassier

Que a existência seja inútil não é simples banalidade. É o que estimula esse livro complexo. Ele defende duas contenções (posições controversas): (1) o desencantamento do mundo, promovido pelo iluminismo, é uma consequência necessária e revigorante, isto é, positiva, dos poderes da razão. (2) Existe uma realidade independente de nós, indiferente à nossa existência, nossos valores e significados. Assim, o niilismo é uma oportunidade especulativa de acessar um pensamento cujos interesses não coincidam com os dos vivos.

Cada capítulo esmiuça um autor ou grupos de autores-obras segundo uma problemática relacionada ao tema. O que torna a leitura bastante difícil no caso daquelas obras as quais não se conhece. Brassier procede por tentar valorizar ao máximo cada opositor e aliado, detalhando méritos naqueles que irá descartar, e apontando falhas naqueles que irá se apoiar. É um autor de uma generosidade engajada - de esforço analítico radical, e de um vocabulário terrivelmente extenso (preparem seus dicionários). Mesmo que seus argumentos tentem ser claros e contundentes, a complexidade argumentativa pode ser um empecilho. Funciona melhor para os autores que já se conhece, no meu caso: Sellars, Meillassoux, Heidegger, Deleuze, Nietzsche. A leitura dos apoiados sobre a obra de Adorno e Badiou foi conturbada, e existe um problema de inteligibilidade, de complicação, no capítulo sobre o já obscuro e complicado por fama Laruelle.

De toda forma, é bonito chegar na última seção final do livro, em um tópico bastante curto, e ler ali condensado o percurso do livro, que a princípio parece disparatado, embora brilhante. Certamente não é algo para se ler apenas uma vez.… (más)

The thesis tries to define and explain the rudiments of a 'nonphilosophical' or 'non-decisional' theory of materialism on the basis of a theoretical framework provided by the 'non-philosophy' of Francois Laruelle. Neither anti-philosophical nor anti-materialist in character, non-materialism tries to construct a rigorously transcendental theory of matter by using certain instances of philosophical materialism as its source material. The materialist decision to identify the real with matter is seen to retain a structural isomorphy with the phenomenological decision to identify the real with the phenomenon. Both decisions are shown to operate on the basis of a methodological idealism; materialism on account of its confusion of matter and concept; phenomenology by virtue of its confusion of phenomenon and logos. By dissolving the respectively 'materiological' and 'phenomenological' amphibolies which are the result of the failure to effect a rigorously transcendental separation between matter and concept on the one hand; and between phenomenon and logos on the other, non-materialist theory proposes to mobilise the non-hybrid or non-decisional concepts of a 'matter-without-concept' and of a 'phenomenon-without-logos' in order to effect a unified but non-unitary theory of phenomenology and materialism. The result is a materialisation of thinking that operates according to matter's foreclosure to decision. That is to say, a transcendental theory of the phenomenon that licenses limitless phenomenological plasticity, unconstrained by the apparatus of eidetic intuition or any horizon of apophantic disclosure; yet one which is simultaneously a transcendental theory of matter, uncontaminated by the bounds of empirical perception and free of all phenomenological circumscription.… (más)